quinta-feira, 30 de setembro de 2010

dentro ou distante? (O Texto)


dentro ou distante
Diante de uma parede encimada por uma grade, um fantoche em forma de pássaro olha por entre as grades. Não se pode ver o que o fantoche olha, mas percebe-se uma parede com o reboco aos pedaços lá fora. Por trás, alguém que o olha. Onde estão eles? Dentro de casa? Ou distante? Dentro da prisão, ou distante dela? E nós, que olhamos, onde estamos?
O fato é que as grades pertencem a um campo semântico inerente ao sentimento de aprisionamento. No entanto, fazem parte também de um campo semântico muito específico, que é inerente ao sentimento de segurança. Prova disso é a paisagem doméstica estar preenchida por estes artefatos como prevenção à violência. Transversalmente coloca-se outra observação: as cores vivas e a delicadeza do fantoche se confrontam com o clima de abandono das paredes e com o signo “grade”, sobretudo. O ponto de vista daquele que vê o fantoche observa seu olhar, ora às suas costas, ora em plongê, o que certamente denuncia a intenção do olhar.
O que é a casa para alguém em situação de cárcere? O cárcere é casa? O que pode enxergar alguém que se vê entre grades? O fato é que as imagens não respondem a essas perguntas, tampouco a respeito do espaço de opressão se tornar casa, ou vice-versa. No final das contas, as fotos formam uma narrativa mínima, constituída de tempo-espaço, mas a qual está decerto ligado um tempo-espaço anterior omitido. Ao mesmo tempo, esta narrativa mínima antecede outra narrativa também omitida. Assim, se estivéssemos no Cinema, poderíamos considerar que nossa história começa em meio aos acontecimentos e que implicam de fato uma liquidação da situação em que o personagem parece privado de sua liberdade.