terça-feira, 17 de março de 2009

Procura-se

O rapaz é egoísta, ateu, não é curioso, prefere o sabor salgado, não é místico, mas tem medo de alma penada. Fala sozinho, tem a mania de escrever nas paredes, adora vídeo game. Não é heterossexual, mas é machista. Sente necessidade de felicidade, mas não consegue saber como ser feliz. Quando criança, era rico e sonhava ser político. Adora combinar a meia com a camisa. É filho único de um casal de Baturité, Ceará, onde o pai tinha alguns armazéns cujo lucro fazia com que a família tivesse renda. Sua mãe cresceu aprendendo que o destino iria entregá-la a um homem a quem ela deveria seguir sem dúvidas e com total entrega. O rapaz trabalha no frigorífico para não morrer de fome; não é leal; pensa nos quem não tem um lar, porque sente inveja do desprendimento de não ter para onde ir e poder sempre nunca chegar. É intolerante; faz músicas feitas de palavrões quando se sente feliz; se sente míope quando fica triste. Se apaixona várias vezes por algumas mulheres no meio da rua. Adora andar de bicicleta, porque sua mãe odeia que ele faça isso. Escuta música num discman. É impulsivo e se comunica com o mundo quando este o assusta. Acredita no amor. Adora Álvaro de Campos, principalmente em sua segunda fase,cuja poesia se fundamenta num cansaço profundo. Concorda que as árvores não são máquinas de fazer sombra. Adora as lagartixas pela utilidade: elas comem as baratas; aceita opiniões, mas não as escuta, porque ocupa sua mente tentando refutá-las. Já pretendeu ter uma moto. Vota em todas as eleições. Fugia de casa todos os dias quando tinha sete anos. Não sabe qual o seu maior defeito, mas admira muito os maiores defeitos de outras pessoas. quando leu As palavras chegou à conclusão de que era alienado como o protagonista e rasgou livros até cansar. Quando criança teve transtorno déficit de atenção não diagnosticado. Odeia segundas-feiras, desde que não haja nada para fazer nelas. Sente muitas dores nas costas, mas já se acostumou a elas. Possui muita força. Sonhou que morria arreado em um balcão, após tomar muita cachaça, sozinho, num carnaval. Por sinal, ele adorava o carnaval. Adorava.