sábado, 16 de fevereiro de 2008

Microconto urbano

No meio do Centro de Fortaleza, que não está no centro, e é nervoso, uma mãe carrega um menino no colo enquanto puxa o outro, que caminha, pelo braço. O moleque não vê e tropeça numa imperfeição da calçada. Após a queda, sua mãe o levanta e diz: "Diabo, deixa de ser lesado!"

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O rato

Um rato entrou na minha casa ontem. Chegamos a soltar os cachorros que o morderam e deixaram o bicho sem muita coragem para ir embora. Durante toda a madrugada ele esteve lá, e hoje pela manhã pulei do sono com os gritos da mamãe por causa dele. Fui até a área, onde ele estava, me armei de cabo de vassoura e cheguei a atacá-lo. Mas quando pude matá-lo, quando ele parecia oferecer a cabeça, já inerme, para o golpe final, eu não o matei. Enterneceu-me a sua fraqueza, os seus olhos perdidos,e não quis, com minhas mãos, dar cabo a sua vida. Estanquei ao observá-lo, lento, baleado, mas ainda vivo. Até agora penso se por covardia ou compreensão. Ele dobrou a esquina, tinha fome além de estar machucado. Alguns homens de um bar o salvaram da vida. Algumas pauladas ao vento e uma certeira inertizaram o roedor escroto. Varreram seu corpo até debaixo da castanhola, perto de um amontoado de lixo em sacolas, como que enterrando o bicho, ou dizendo: "Que apodreça longe da minha porta". Enfim, livraram-se da ex-vida. Após alguns minutos, a notícia de sua morte chegou a nossa casa: "Homens da outra rua matam rato a pauladas".
Foi um evento bairrístico na minha rua. De repente, as vizinhas opinavam sobre o fedor que o bicho em putrefação deixava(isto para citar o curioso, pois bem esqueciam elas de que federiam da mesma forma quando morressem, aliás, damos de comer a muitos ratos quando morremos. Ouvi balbucios e ascos aos bichos. Todos enojados dos animais que criam. Resignado à morte e pertubardo pelo burburinho, fui à praia.

Vinícius Alves